PARADIGMA

 

 

Domenico De Masi elaborou seu paradigma a partir do pensamento de mestres como Alexis de Tocqueville, Carl Marx, Frederick W. Taylor, Daniel Bell, AndrA� Gorz, Alain Touraine, Agnes Heller formulando conteA?dos originais baseados sobretudo em pesquisas focadas no mundo do trabalho.

 

Difundiu suas ideias atravA�s de livros, ensaios, matA�rias, cursos universitA?rios, conferA?ncias e programas de rA?dio e televisA?o.

 

Resumidamente os principais pontos de seu paradigma sA?o: a sociedade pA?s-industrial, os aspectos socioeconA?micos, as necessidades emergentes, os novos sujeitos sociais, a criatividade, o trabalho, o teletrabalho, o A?cio-criativo, o tempo livre, os paradoxos sociais e empresariais.

 

Para uma descriA�A?o completa do paradigma desenvolvido e difundido por Domenico De Masi, consulte os trA?s textos: Criatividade e grupos criativos. Fantasia e concretude (Sextante, 2003), O Futuro do trabalho (JosA� Olympio, 2001), O A?cio criativo (Sexante, 2000).

 

 

 

 

 

SOCIEDADE POS-INDUSTRIAL

 

 

Em linhas gerais podemos apontar o inA�cio da sociedade rural na MesopotA?mia de seis mil anos atrA?s, onde a produA�A?o era centralizada na agricultura e no artesanato.

 

Sob a influA?ncia do Iluminismo, das revoluA�A�es burguesas e da acumulaA�A?o primA?ria devida a exploraA�A?o das colA?nias, a partir do sA�culo XVIII deu-se inA�cio uma nova maneira de produzir riqueza atravA�s das fA?bricas e contemporaneamente um novo tipo de sociedade: a sociedade industrial, centralizada na grande produA�A?o de bens materiais, que dominou o Ocidente atA� a metade do sA�culo passado, com epicentro na Inglaterra e sucessivamente nos Estados Unidos.

 

A partir da segunda guerra mundial, verificou-se uma nova descontinuidade histA?rica, criada pelo efeito conjunto entre o progresso tecnolA?gico, o desenvolvimento organizacional, a globalizaA�A?o, a mA�dia, a escolarizaA�A?o generalizada, a RevoluA�A?o Russa, e a segunda guerra mundial.

 

Nasce entA?o um novo sistema-mundo, que por comodidade chamamos de pA?s-industrial, centralizado na produA�A?o de bens imateriais (informaA�A?o, serviA�os, sA�mbolos, valores, estA�tica) e caracterizado por uma nova postura na economia, no trabalho, na cultura e na convivA?ncia.

 

 

ASPECTOS SOCIOECONOMICOS

 

Na sociedade pA?s-industrial, coexistem trA?s diferentes tipos de paA�ses: os do Primeiro Mundo, que produzem sobretudo idA�ias atravA�s de patentes; os emergentes (Bric e Civets), que se tornaram as grandes fA?bricas do planeta, e os do Terceiro Mundo, que sobrevivem vedendo barato a matA�ria-prima, mA?o-de-obra e subordinaA�A?o polA�tico-militar. No Primeiro mundo o setor terciA?rio contribui em maior percentagem seja no emprego que na formaA�A?o do PIB.A mA�dia e a economia globalizada provocaram a homologaA�A?o dos modelos de vida e de polA�tica. A�No sA�culo XX o Comunismo tentou distribuir a riqueza sem ser capaz de produzi-la enquanto o Capitalismo tentou produzir A�a riqueza sem ser capaz de distribuA�-la. Quando a queda do Muro de Berlim pA?s fim A� Guerra Fria, o Comunismo perdeu, mas o Capitalismo nA?o venceu.Dado que A� impossA�vel um crescimento infinito num mundo finito e globalizado, o desenvolvimento dos paA�ses emergentes implica o decrescimento dos paA�ses ricos: decrescimento que pode ser desastroso ou tranquilo; depende do modo com a qual A� programado: no tempo, nos meios e nos resultados.A�A fase de vida que sucede os 50 anos de idade tende ao prolongamento mas a sociedade ainda nA?o estA? preparada para valorizA?-la. A�As relaA�A�es interpessoais e a cultura tendem a se mercantilizar. A economia tende a prevalecer sobre a polA�tica, e a finanA�a sobre a economia. A homologaA�A?o tende a prevalecer sobre a identidade, a virtualidade sobre a tangibilidade, a hibridaA�A?o sobre a separaA�A?o.

 

NECESSIDADES EMERGENTES

 

Na sociedade industrial tornam-se imprescindA�veis as necessidades relacionadas a racionalizaA�A?o e A� eficiA?ncia, a especializaA�A?o, A� sincronia, A� produtividade, A� economia de escala, a organizaA�A?o hierA?rquica nas empresas, ao urbanismo, ao consumismo.

 

Na sociedade pA?s-industrial, emergem valores como a intelectualizaA�A?o, a criatividade, tamsulosin high, what is metronidazole used for. a A�tica, a estA�tica, a subjetividade, a emotividade, a androgenia, a desestruturaA�A?o do tempo e do espaA�o, a virtualidade, a qualidade de vida.

 

A�s necessidades quantitativas de poder, dinheiro e sucesso, contrapA�em-se outras de natureza qualitativa, ligadas A� introspecA�A?o, A� solidariedade, A� amizade, ao amor, ao ludismo, A� beleza, A� sociabilidade.

 

OCIO CRIATIVO

 

 

Na fA?brica industrial o trabalho, prevalentemente manual, absorvia todas as energias fA�sicas do trabalhador que era submetido ao controle severo dos chefes, e separado radicalmente do tempo de lazer.

 

Na sua autobiografia Henry Ford escreve a�?Quando trabalhamos, devemos trabalhar. Quando nos divertimos, devemos nos divertir…quando o trabalho estiver concluA�do, entA?o A� chegada a hora do diversA?o, mas nA?o antesa�?.

 

Na sociedade pA?s-industrial, dois terA�os dos trabalhadores, como vimos, desenvolvem atividades intelectuais, quase sempre criativas.

Em muitas destas atividades, a quantidade e a qualidade do produto nA?o dependem do controle exercido sobre o trabalhador mas dependem da motivaA�A?o do mesmo e da possibilidade de desempenhar dentro de uma condiA�A?o feliz denominada por De Masi a�?A?cio criativoa�?.

 

NA?o se trata de preguiA�a ou desinteresse mas de um estado de graA�a, comum a vA?rias atividades intelectuais, que se determina quando as dimensA�es fundamentais da nossa vida ativa a�� A�trabalho que produz riqueza, estudo que produzA� conhecimento, jogo que produz bem-estar a�� se hibridam e se confundem dando origem ao ato e ao produto criativo.

 

Ea��o estado de espA�rito que vive um artista quando realiza uma obra de arte, uma crianA�a quando constrA?i um castelo de areia, um empresA?rio quando guia seu time em direA�A?o A� uma meta inovadora, um cientista quando conduz com metodologia e tenacidade suas pesquisas.

 

Se subsistem as condiA�A�es para o A?cio criativo o prA?oprio trabalhador nA?o sabe o que estA? fazendo, esquece do tempo que passa, projeta sua prA?pria vida alA�m das previsA�veis resistA?ncias. Arthur Rubinstein, A�para quem o aconselhava a descansar A�respondia: “Descansar? Descansar do quA?? Eu, quando quero descansar, viajo e toco pianoa�?. E A�Joseph Conrad: “Como vou explicar para a minha mulher que, quando eu olho para fora da janela, estou trabalhando?”.

 

O conceito de a�?A?cio criativoa�? bem se reflete no pensamento Zen: a�?O Mestre na arte da vida faz pouca distinA�A?o entre o seu trabalho e o seu lazer, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educaA�A?o e a sua recreaA�A?o, entre o seu amor e a sua religiA?o. Ele dificilmente sabe distinguir uma coisa da outra. Ele simplesmente persegue sua visA?o de excelA?ncia em tudo que faz, deixando para os outros a decisA?o de saber se estA? trabalhando ou se divertindo. Ele acha que estA? sempre fazendo as duas coisas simultaneamentea�?.

 

 

CRIATIVIDADE

 

 

De Masi realizou inA?meras pesquisas sobre a atividade criativa e sobretudo sobre a criatividade de grupo.Ele define a a�?criatividadea�? como uma sA�ntese A�entre a imaginaA�A?o (com a qual se elaboram novas idA�ias) e a concretude (com a qual as novas idA�ias sA?o traduzidas em realidade).

 

Ele define como a�?gA?nioa�? uma pessoa que possui uma grande imaginaA�A?o e contemporaneamente, uma grande concretude. Acredita que sendo raros os indivA�duos geniais, eles podem ser A�substituA�dos pelos a�?grupos criativosa�? nos quais convergem personalidades dotadas de muita imaginaA�A?o (mesmo que pouco concretas) e personalidades muito concretas (mesmo que com pouca imaginaA�A?o).

 

Para que concretos e imaginosos possam colaborar criativamente, devem compartilhar A�a mesma mission, uma forte motivaA�A?o para alcanA�A?-la, e necessitam de lA�der carismA?tico capaz de conferir entusiasmo ao grupo.

 

PARADOXOS EMPRESARIAIS

 

O rendimento da atividade intelectual, não depende nem do tempo, nem do local de trabalho; mas mesmo assim as empresas ainda não conseguem se desestruturar.

Por resistirem às mudanças que a tecnologia informática permite e sobretudo ao teletrabalho, exprimem um dos paradoxos empresariais denunciados por De Masi, o qual enumera também outros indicando as respectivas soluções.

 

Como exposto anteriormente, a  vida se alonga mas os anos dedicados ao trabalho diminuem: iniciamos cada vez mais tarde e terminamos cada vez mais cedo.>/p>

 

As mulheres vivem mais do que os homens mas se aposentam antes. A oferta de empregos diminui e a demanda cresce mas o horário de trabalho não diminui: poderíamos trabalhar todos e kenalog 10 for sale, viagra daily dosage. pouco, mas os pais trabalham 10 horas por dia e os filhos ficam desempregados.

Existe uma maior liberdade sexual mas as empresas continuam sexofóbicas. Cresce o nível cultural dos trabalhadores mas os empregos precários requerem sempre menos inteligência e permitem cada vez menos formação e carreira.

 

A produção de idéias necessita de autonomia e liberdade, mas as empresas estão cada vez mais burocratizadas.

O trabalho intelectual requer motivação, mas é gerido principalmente com o controle. As mulheres estudam e trabalham  mais mas fazem menos carreira. As distâncias culturais entre patrões e empregados é menor mas a diferença entre os salários é maior.

 

Na vida a emotividade ganha espaço mas nas empresas continua sendo privilegiada a racionalidade. Elogia-se a meritocracia mas prevalecem as panelinhas. Os empresários necessitam de um maior conhecimento do contexto, do mercado, das preferências dos clientes e dos valores emergentes, mas vivem overtime  nas empresas, com desinteresse pela família, pelo bairro, pela sociedade, pela cultura, e pela política.

 

Do trabalhador exige-se uma crescente integração com a empresa e ao mesmo tempo é alienado pelas catracas, o controle, a intimidação e as ameaças de demissão. Se pede colaboração mas se pretende competitividade.

 

TRABALHO

 

 

Dado que a produA�A?o de bens e serviA�os aumenta utlizando sempre menos o trabalho humano (jobless growth), depois la libertaA�A?o da escravidA?o e da libertaA�A?o do cansaA�o, A� possA�vel vislumbrar uma libertaA�A?o do trabalho bastante difundida.

 

Atualmente, nos paA�ses do OCDE, um terA�o dos trabalhadores desenvolvem atividades intelectuais de tipo criativo; um terA�o desenvolvem atividades intelectuais de tipo executivo; e o A?ltimo terA�o A� constituA�do por operA?rios e camponeses que produzem bens e serviA�os atravA�s de mansA�es fA�sicas e repetitivas.

 

Estas trA?s faixas possuem o privilA�gio de produzir, alA�m de consumir. Ao redor deste bloco decrescente, existe uma massa crescente de desempregados, inativos e aposentados com acesso ao consumo mas expulsos da produA�A?o e consequentemente expostos ao tA�dio, A� depressA?o, ao desespA?ro, ao desvio social.

 

O trabalho, que se reduz A� um sA�timo da vida adulta do indivA�duo, perde sua centralidade; a forA�a trabalho se feminiliza; a organizaA�A?o do trabalho requer mais motivaA�A?o que controle, mais criatividade que burocracia, mais A�tica que astA?cia, mais estA�tica que prA?tica, mais equilibrio vital que overtime, multitasking e disponibilidade.

 

 

 

TELETRABALHO

 

 

Outra categoria explorada e difundida por De Masi atravA�s das pesquisas, ensaios e consultorias A� o teletrabalho. Hoje grande parte das tarefas repetitivas, entediantes, perigosas podem ser transferidas A�s mA?quinas de forma que A� maioria dos trabalhadores (cerca 70%) restam principalmente as mansA�es de tipo intelectual, ligadas A�s informaA�A�es. Muitas delas podem ser realizadas a qualquer hora ou lugar, graA�as ao suporte das modernas tecnologias informA?ticas.

 

DaA� a possibilidade de a�?teletrabalhara�?, de casa ou de onde o trabalhador preferir, desenvolvendo o mesmo trabalho feito cotidianamente nos escritA?rios, sem o vA�nculo da mobilitaA�A?o obrigatA?ria.

 

A desestruturaA�A?o do tempo e do espaA�o A� a nova, a grande possibilidade que permite hibridizar o trabalho com o tempo livre, trabalhando por objetivos, economizando tempo e espaA�o, reduzindo a micro-conflitualidade, a poluiA�A?o, congestionamento e manutenA�A?o urbana, acidentes de trabalho e no trA?fego.

 

NOVOS SUJEITOS SOCIAIS

 

 

Aumenta a ruptura entre os novos sujeitos a�?digitaisa�? e A�os velhos sujeitos a�?analA?gicosa�?.

 

Os primeiros sA?o mais otimistas em relaA�A?o ao destino do planeta e A� ubiquidade que a informA?tica consente. Eles se sentem cidadA?os do mundo; aceitam a igualdade entre os gA?neros, o controle natal, o multirracialismo, a intercultura, a globalizaA�A?o.

Certos que a vida A� uma sA?, tendem a viver o aqui e agora; prestam atenA�A?o A� ecologia, nA?o diferenciam muito o dia da noite, os dias de trabalho dos feriados; comunicam atravA�s de novos a�?esperantosa�? linguA�sticos e estA�ticos; vivem a sexualidade com desenvoltura. Unem o nomadismo A� estabilidade.

 

Os a�?analA?gicosa�?, ao invA�s, desconfiam das novidades; temem o desenvolvimento demogrA?fico, a imigraA�A?o, o multirracialismo, as novas tecnologias, a interculturalidade, o controle natal, a eutanA?sia; consideram a violA?ncia, a corrupA�A?o, a guerra como chagas inevitA?veis e crescentes; temem o futuro e mitificam o passado.

 

LAZER

 

Hoje, quem tem 20 anos pode prever mais de 500.000 horas de vida. Se exerce funA�A�es executivas, apenas um sA�timo dessas horas serA? ocupado pelo trabalho; todo o resto serA? dedicado aos cuidados do corpo e ao lazer.

 

Assim, na sociedade pA?s-industrial, o lazer desloca a centralidade do trabalho. No entanto a educaA�A?o familiar, escolar, e as empresas mantA�m o foco na formaA�A?o profissional, fator dominante na vida industrial, do qual dependem ainda o ganho, o prestA�gio, a seguranA�a, o consumo material e cultural.

 

Devido ao efeito preponderante da experiA?ncia industrial, o lazer, nA?o obstante sua prevalA?ncia quantitativa, ainda A� uma categoria residual onde os cidadA?os nA?o estA?o treinados para um uso adequado. Sua gestA?o, deixada ao acaso, aos caprichos e A� publicidade, corre o risco de degenerar no consumismo, na depressA?o, na marginalizaA�A?o.

 

Em um mundo de adultos hA�per-ocupados, de jovens inocupados e de anciA?os aposentados, este desiquilA�brio assustador pode ser evitado atravA�s de cinco aA�A�es radicais:

 

a�? estimular o processo de automatizaA�A?o do trabalho onde a maior parte do trabalho brutal seja delegado A�s mA?quinas, deixando aos homens somente as atividade flexA�veis e criativas;

 

a�? abolir aposentadoria por idade igual para todos, deixando a decisA?o dos termos e tempos da mesma a serem discutidos entre o trabalhador e o empregador;

 

a�? reduzir o horA?rio do trabalho executivo distribuindo-o por toda a vida ativa do trabalhador;

 

a�? melhorar a cultura e a organizaA�A?o do tempo livrea�? dedicar a mA?xima atenA�A?o a educaA�A?o a longevidade, ao A?cio criativo, ao decrescimento serenoa�? redistribuir o trabalho, o poder, a riqueza, as tutelas;

 

a�? garantir o papel central da A�tica e da estA�tica.